Um ponto de fuga
Fujo de mim, do mundo dos vivos, do mundo real, onde tudo poder ser possível, onde não há dor. Mas, como uma tola, deixo minhas pegadas para saber exatamente para onde voltar. E volto, como uma tola..
Me sinto sufocada.
Ironicamente, pela vida.
Pelo o que ela é ou precisamos que seja. Por ter início, meio e fim. Por ser esse montante de momentos e escolhas. De chegadas e partidas. Dos dias tristes e dias felizes. Nos momentos felizes, ainda há tristeza ao saber que aquele momento não durará para sempre e, quanto aos dias tristes, parece haver um abismo até que acabe.
Não me lembro de viver um dia sem ansiar por algo que possa estar por vir. Viver com medo, com o frio na barriga, com a sensação de se estar sempre à beira de um abismo e que, a qualquer momento, algo ou alguém a empurrará.
Ás vezes, fecho meus olhos e me visualizo correndo, correndo com toda velocidade que consigo. Nesse pensamento, não há exaustão, não há cansaço físico por estar correndo, só há alivio. Meu corpo corre como se não pesasse nada. Há uma linda paisagem, pelo menos para mim. É uma estrada, o chão do asfalto parece estar meio molhado, como depois de uma garoa, o céu está meio nublado e meio ensolarado, parece ser um fim de tarde, mas ainda não é a hora do sol se pôr. Aos arredores, só há arvores, árvores altas com copas cheias, um verde intenso, algumas parte há flores, flores brancas. Não há tempo de perceber mais detalhes, pois continuo correndo. Nesse momento, eu não sinto medo, não sinto angustia, não sinto a melancolia que carrego desde que me entendo por gente, não há tristeza alguma. Tudo que tenho, é um lindo horizonte a me esperar, enquanto corro, cada vez mais rápido, quase flutuando.
Outras vezes, me imagino andando em um campo com diversas flores, não sei exatamente quais são, nunca fui boa com nomes de flores ou plantas, ou apenas nomes. Mas são lindas, algumas pétalas são brancas, outras são amarelas quase pálidas, outras lilás... uso um lindo vestido de cor clara, o sol está mais nítido, há poucas nuvens no céu, mas não há calor e nem frio, apenas leves brisas de ar que faz os fios dos meus cabelos voarem. Eu sorrio, olho para trás, como se alguém me acompanhasse, e continuo caminhando.
O momento que antecede essas situações onde a melancolia não me acompanha, é o meu eu espirito, observando meu corpo em uma maca fria, pálida e sem vida.
No que diz respeito a mim, parece que a leveza de ser, só existe em outro mundo, não nesse.
E qual mundo seria?